sábado, 5 de abril de 2014

Acalanto aos pensamentos de um Final



Acalanto aos pensamentos de um final 


Assim como uma luz
meio sem forma
está entrando em limiares de colunas  cheias
salinas e desconcertantes
tu apareces
como se dali, de onde cuspido foste
mensagem te viesse
de que nada poderias fazer  para voltar


E rugas aparentas ter
como se de pele antiga fosse composta tua face
para que em processo
rápido  audaz
quase um milagre
lisa
em pouco tempo ela acabasse por ficar


[como se a própria Vida num palco se esticasse]


E assim começa a esquisita caminhada
para o fim
e ainda que não possas enxergar em meio às névoas
elas se dissiparão
e tu alcançarás com certa nitidez
uma das verdades que em ti vão esbarrar


E um dia
passando pelos dramas da tristeza
em meio ao burburinho de perder-te
ao aninhar-se como fosse  ainda

aquele feto em rima que não rende
que nada além de um regresso estás vivendo
que tudo apenas começa a retornar


E ao se transformar de novo na criança
em busca do calor  e da umidade
já tens de novo rugas
mais idade

pelos brancos
num corpo bem franzino
que repousará em seu lugar de vinda
e de destino


e saberás então
que era esse movimento
muito mais simples - mesmo -
do que pregam

o arco emboscado  desta Vida 


©Eliana Mora, 23 de junho de 2000
In: Mar e Jardim, 2003

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