terça-feira, 6 de agosto de 2013

NUVEM DE HIROSHIMA


Nuvem de Hiroshima 



De repente
comecei a observar uma nuvem
que inundara meio céu
de princípio semelhante a um enorme confeito
de marshmallow
 
Não demorou para que ela concentrasse suas formas
e numa espécie de brusca mutação
se transformasse num enorme cogumelo
iridescente


como se fosse aquela bomba tenebrosa de Hiroshima
 
Quem sou -- pensei aqui
a me enfronhar nas loucas dores que ainda sinto
[e que senti
diante deste magnífico presente
que  em segundos
carregado pela translação e pelo vento
alvejou-me fundamente os olhos
provocando uma sutil deglutição do meu lamento
 
Lá estava ela
quase uma ameaça
podendo conter dentro de si alguma tempestade
algum resquício de radioatividade
fruto de uma quase inesperada rotação


e se explodisse poderia até estilhaçar esta vidraça
 
Então me vi
tentando por momentos esquecer
da alma que se trinca
qual louça antiga ao toque
Pequena
corri a registrar o vôo lento desta musa de algodão
com minha pena
 
A imaginar
ou a querer interpretar
que nada haveria de melhor naquele instante
que eu pudesse fazer
 
por mim


©Eliana Mora,  31 de março de 2000 
da série “Fatos e Poesia”

2 comentários:

Emmanuel Almeida disse...

Realmente, a alma se transforma de desmancha se cria recria numa sempre explosão de sentimentos.

Eliana Mora [El] disse...

Sem dúvida. E aí [creio] a inspiração 'recolhe' o que há dentro de nós.!

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